Festival de Cannes 2012: mais viagens através de filmes

Ontem começou o 65 Festival de Cinema de Cannes, na França. Eu, que adoro ir ao cinema e viajar fui imediatamente pesquisar a seleção oficial de filmes para saber onde haviam sido rodados. Depois que escrevi o livro Europa de Cinema, fiquei ainda mais fanático por descobrir onde cada cena foi feita. Aqui vão algumas sugestões para viajar sem sair de casa (ou do cinema):

CAIRO, no Egito, com o filme After the Battle, de Yousry Nasrallah

SEÚL, na Coreia, com o filme The Taste of Money, de Im Sang-soo

PARIS, na França, com o filme Holy Motors, de Leos Carax

A DINAMARCA, com o filme The Hunt, de Thomas Vinterberg

TOKYO, no Japão, com o filme Like Someone in Love, de Abbas Kiarostami

A ESCÓCIA, no filme The Angel’s Share, de Ken Loach

Se estiver curioso para ver os trailers de todos os filmes selecionados para o Festival, acesse o link abaixo e boas viagens!

Trailers de Cannes

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Stieg Larsson’s quarto manuscrito – será que vamos poder ler?

Lisbeth Salander no filme "O Homem que não amava as mulheres"

O jornalista e escritor sueco Stieg Larsson

O jornalista sueco Stieg Larsson, criador da personagem Lisbeth Salander, morreu de um ataque do coração fulminante ao subir as escadas de seu trabalho. Stieg tinha 50 anos, fumava como louco e era ávido por junk food. As teorias da conspiração na Suécia dizem que foi obra de grupos neonazistas e de extrema-direita, que eram constantemente investigados por Larsson.

O que importa é que antes de morrer, ele deixou pronto três livros que fazem enorme sucesso mundo afora. A Trilogia Millennium já vendeu mais de 40 milhões de cópias ao redor do planeta. A Suécia, com cerca de 9 milhões de habitantes, comprou 3,5 milhões de livros de Stieg Larsson. Os três livros estão na lista dos mais vendidos na Alemanha desde o começo de 2009 e foram traduzidos em 35 idiomas. Na França, venderam mais do que todos os Harry Potters e apenas o primeiro livro, que nos EUA tem o título The Girl With The Dragon Tatoo, já vendeu 4 milhões de cópias por lá.

No Brasil, os livros chamam-se O Homem Que Não Amava As Mulheres, A Menina Que Brincava Com Fogo e A Rainha Dos Castelos de Ar. São nomes estranhos para livros tão bons. E os fãs da trilogia também foram ao cinema, depois do lançamento do filme do primeiro livro. A bilheteria já rendeu US$ 93 milhões. Nada mal para um filme em sueco. Mas aguardem, boatos correm que Brad Pitt será a versão hollywoodiana de Mikael Blomkvist.

Depois de sua morte, uma novela digna de outro livro começou na vida real. Sua companheira, Eva Gabrielsson, que viveu junto com Larsson por 32 anos, não tem direito a um centavo do que vale a fortuna de direitos autorais do Millennium. Isso porque eles nunca foram casados de papel passado e a Suécia não reconhece o concubinato. Eles nunca formalizaram o casamento pois se o fizessem teriam que tornar o endereço de residência público e isso poderia atrair terroristas skinheads, alvo constante das matérias investigativas de Larsson.

Hoje uma batalha judicial entre Gabrielsson e a família de Larsson corre nos tribunais da Suécia. A opinião pública é totalmente a favor dela, mas o pai e o irmão, de quem Stieg nunca foi muito próximo, querem ficar com a bolada. Mas Eva tem um trunfo em suas mãos. O laptop de seu ex-marido contém o manuscrito de um quarto livro, que seria a culminação das aventuras de Lisbeth Salander. O laptop é tão precioso que está guardado nos cofres do Banco da Suécia. É a carta que Eva tem na manga e que todos esperam um dia poder ler.

Eu, se morasse na Suécia, escreveria um livro a toque de caixa sobre todo o bafafá em torno do espólio de Stieg Larsson, estimado em US$ 15 milhões. Seria um best seller com certeza. E tentaria convencer Eva a lançar o quarto livro, mesmo que inacabado. Quem já leu algum dos livros sabe como são viciantes. Quem não leu, por favor, agilize-se. Há edições econômicas da Companhia das Letras até mesmo em postos de gasolina do Brasil.

E a propósito, o filme está em cartaz aqui também. Mas eu leria o livro antes, sem sombra de dúvidas.

Capa do primeiro livro em português da Trilogia Millennium

A revista Millennium existe na Suécia

Formando opiniões

Continuo aproveitando os finais-de-semana para submergir no mundo da literatura e do cinema. Hábitos totalmente antissociais mas que me dão intenso prazer. Na sexta-feira resolvi “matar” a academia e ir assistir ao “Leitor”. Recomendo o filme com 5 estrelas. Primeiro por se tratar de uma história onde valores morais, certo, errado, destino, culpa são os protagonistas. O que você teria feito no lugar do aspirante a advogado? Gosto de histórias que falam de ações que tomamos (ou deixamos de tomar) e que causam consequências em nossas vidas e concordo com a máxima de que é melhor nos arrependermos por algo feito do que por algo não feito. Em seguida vêm as atuações de Kate Winslet, como Hanna Schmitz, e Ralph Fiennes, como Michael Berg adulto.

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No sábado eu fui a uma festa de aniversário em Caiobá. Era grito de carnaval e um ano de minha “sobrinha”. Duas coisas que eu não gosto, juntas (bebês e carnaval). Comi uns 9 cachorros-quente e vários pasteizinhos e voltei para Curitiba antes de anoitecer pois minha tia, que foi comigo, queria ver o noivado do Caminho das Índias. Por sorte, assim tive tempo de ir assistir ao Benjamin Button.

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Outro filme ótimo, que me fez pensar muito em como levar a vida. Como envelhecer. Como olhar para cada dia e tentar tirar o melhor dele. Chorei no final. Sou um pouco manteiga-derretida no cinema, mas as lágrimas valeram à pena. Cada um de nós é responsável por ser feliz e ir atrás do que quer. E todos vamos para o mesmo lugar: a morte. Uns mais felizes do que outros. E me veio uma pergunta interessante: O que você quer ser quando morrer? Um cineasta? Um escritor? Uma dançarina? Apenas mais um?

E para coroar os questionamentos e dúvidas existencias, eu finalmente assisti ao Zeitgeist. O DVD estava na minha mesa desde o ano passado. Um aluno da Patrícia deu para ela assistir. Ela me falou que o filme era meio estranho mas interessante. Quando estive na Espanha, em meio a uma discussão acalorada com meu amigo Miquel sobre o domínio do Islã da Andaluzia, a política europeia, etc ele me falou do filme. Então hoje sentei na frente da tevê e apertei o play.

Agora que o filme acabou, o play do meu cérebro foi acionado. Será que aquilo que dizem no filme é verdade? Será que o que nos dizem os meios de comunicação é verdade? Em quem acreditar? Ou será que é preciso acreditar em algo daquilo? Tenho certeza que as pessoas seriam mais felizes sem religião, por isso a primeira parte eu assimilei bem. Na segunda parte eu comecei a questionar tanto o filme quanto o governo Bush. Mas conspirações abundam. E quando eu morava em Dubai muita gente dizia que os ataques de 11 de Setembro foram ideia dos lobistas judeus nos EUA. Será? E o tal to Carlyle Group? Bem, veja o filme e depois a gente conversa. Eu prefiro desligar a televisão durante o noticiário pois também acho que com um pouco de “ignorância” dos fatos a gente pode ser um pouco mais feliz.

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Sexta-Feira 13

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Hoje. Uma sexta-feira 13. Não poderia passar sem algum comentário. A primeira coisa que vem a cabeça é: Por que uma sexta-feira 13? Poderia ser, sei lá, uma quarta 22.

12 é um considerado um número completo. Foram 12 apóstolos, 12 casas (signos) do zodíaco, 12 meses no ano e por aí vai. Já 13 não. O 13 é do mal. Um número primo, só é divisível por 1 e por ele mesmo, muito egoísta.

Se você, leitor, se recordar, vai lembrar que na última ceia, Jesus estava sentado a mesa com mais 12 pessoas (13 com ele), e lembrará o que aconteceu depois.

Se pesquisar, vai descobrir que a Ordem dos Templários (Dan Brown criou um romance que fez sucesso falando sobre os cavaleiros templários) começou a ser perseguida justamente em uma sexta-feira 13. Logo após serem declarados oficialmente ilegais foram executados por heresia.

Vai ver também que Jesus Cristo, se considerarmos o calendário vigente da época, foi crucificado em uma sexta-feira 13.

É, dá pra perceber que praticamente o surgimento dessa crença é católica. O engraçado é que o ícone da sexta-feira 13 não é nada católico. (pelo menos em uma análise superficial)

Falando Jason Voorhees, hoje também estréia o remake do filme Sexta-Feira 13. Uma ação na internet para divulgar o filme que vale a pena conferir é o site Travel With Us.

Fábio Miranda

Foi apenas um sonho

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Talvez, em uma primeira análise, digamos que esse filme é um filme sobre relacionamento. Onde uma mulher histérica incomoda a vida de um cara normal. Ou seria um cara normal que atrapalha uma mulher com tantas aspirações? É por isso que eu acho que a análise desse filme deve ir além da análise de um casal em crise.

Por que não dizer que esse é um filme que fala sobre expectativas? Expectativas de seres humanos sobre seres humanos, expectativa de uma pessoa sobre si mesma.

Ele mostra o momento em que o ser humano se reconhece não pelo que é, mas pelo que poderia ter sido. E é essa expectativa sobre o que poderia ter sido (ou ainda poderia ser) que faz com que April (Kate Winslet) transfira essa expectativa ao marido Frank (Leonardo DiCaprio). Ela espera (e expecta) dele uma atitude que a faça sentir viva, se sentir mulher e o reconhecer como homem.

Contardo Calligaris, na sua coluna do dia 05.02, (pode ser lido aqui) resume muito bem essa expectativa transferida:

“April se torna assim uma representante feroz daquelas expectativas monstruosas com as quais qualquer homem lida como pode – as expectativas maternas: “Seja extraordinário, meu filho”.”

Foi Apenas Um Sonho (Rovultionary Road)

Diretor: Sam Mendes

Elenco: Kate Winslet e Leornado DiCaprio

Baseado no livro homônimo de Richard Yates (1961)

Fábio Miranda

Novidades do final de semana

Cinema: assistimos a “Queime Depois de Ler”. Genial. Recomendamos.

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Livro: acabei de ler “GirlBoyGirl: How I became JT Leroy”. Para quem não sabe, JT Leroy foi um fenômeno nos EUA há alguns anos. Escreveu best sellers, um deles virou filme e estreou em Cannes. Era amigo de Madonna, Gus Van Sant e Courtney Love. Mas em 2006 foi descoberto que ele não era quem dizia ser. Uma história quase tão interessante quanto os livros que ele (não) escreveu. Recomendo. E recomendo os livros de JT também (estes editados em português).

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E antes de começar a semana, descobri algo engraçado. Na França, foi lançado um boneco vudú do presidente Sarkozy. Um sucesso de vendas. O presidente até tentou fazer com que a venda deles fosse proibida, o que os tornou ainda mais “cult”. Quem for para Paris traz um para a gente ver.

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O acaso por mera coincidência ou a coincidência por mero acaso?

Final de semana assisti a duas coisas que previamente não tinham nada em comum, mas que acabaram se completando.

O filme Última Parada 174 não é filme pra Oscar (não que eu ache que o Oscar faça uma seleção do que há de bom), mas é um bom filme. Um bom filme por falar do que ele fala. Você sai com a sensação de que tudo está errado (não que já não soubéssemos isso, mas aquilo é colocado na sua frente com um pouco mais de clareza). O mundo está errado. E não é coisa de agora, não é um mau governo agora. Vem de antes, muito antes. E é aqui que ocorre o que há de melhor na arte, a interação e a criação de um repertório (palavra kitsch que ainda funciona).

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The Cachorro Manco Show é uma boa peça, dirigida por Moacir Chaves, texto de Fábio Mendes e atuação de Leandro Daniel Colombo. Em um determinado momento o personagem, em uma das muitas interrupções que a peça tem, vira e fala:

“Para Adão, faltavam-lhe poucas letras pra Ladrão e para Fruto virar Furto, nenhuma”.

Aqui não é uma reflexão sobre quem acredita ou não em religião, mas uma análise metafórica da representação do erro inicial. Uma representação que as cagadas já vem de antes. Não adianta só culparmos os políticos (que têm sim muita culpa) se somos reflexo disso.

E o personagem continuava: “Vocês, com seus narizinhos debilitados, são macaquinhos. Macaquinhos!”

Fábio Miranda

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Uma experiência sensorial

Acabei de assistir um dos melhores “thrillers” dos últimos tempos. Não sou muito fã do gênero mas devo confessar que os americanos consguiram elevar a técnica de contar histórias policiais e de tramas perigosas a uma dimensão acima dos outros. E, o Eagle Eye (já vi trailler dele no Brasil), visto na tela do IMAX quase me fez borrar as calças de tanto estresse que passei.

O IMAX é uma tela de cinema gigantesca, quatro vezes maior do que uma tela normal. É a diferença entre assistir um filme na tela do laptop ou na tela de plasma hiper cool do teu amigo. E com um sistema de som absurdo, que dava para escutar um pernilongo voar da direita para a esquerda da tela.

Some a tudo isto o Shia LaBoeuf, que por si só já vale o filme. Diga-se de passagem que neste ele está milhões de vezes melhor e mais real do que na ridícula nova versão do Indiana Jones. Bem, recomendo esperar o IMAX abrir no Shopping Palladium (caso você more em Curitiba) para ver um filme cheio de explosões, perseguições e tiros.

Um comentário a parte: quando saí do cinema, olhando torto para todas as câmeras de vigilância, entrei na Apple Store. Comprei umas coisas e, na hora de pagar, meu cartão foi bloqueado. Achei que era por ter chegado no limite. Fui correndo tirar dinheiro no caixa automático. Quando digitei minha senha, tocou meu telefone. Atendi. “Sr Vicente, você ainda está na Apple Store em Miami?” Meu coração parou por uns 3 segundos. Era do banco, querendo saber se era eu quem estava usando e abusando do cartão. Mas quando você for ver o filme, vai entender o meu desespero nesta hora.

Descobertas de final de semana

Para enfrentar um final de semana tipicamente curitibano, nada melhor do que uma programação cultural intensa. Quando vi que iria fazer frio e choveria, apesar de já estarmos em outubro, fui ao teatro. Na sexta-feira assisti a Esperando Godot, no Guairinha. A peça escrita pelo irlandês Samuel Beckett em francês nos anos 40 é uma das mais encenadas no mundo. Teatro do absurdo. Duas pessoas passam dois dias esperado Godot chegar. Bem, se a peça tivesse levado 40 minutos, teria sido ideal. Foram duas horas de tortura. Não gostei. Mas é uma daquelas coisas que “one must see” na vida, tipo ler Tolstoi ou Hemingway e ver um filme de Truffaut ou Godard. Mas os atores eram bons e no final da peça abrem-se as cortinas para nos depararmos em cima do palco do teatro. A entrada foi pelas coxias, a saída pela arquibancada e porta principal. Tive um acessso de riso na saída que valeu ter ido ver a peça.

No sábado fui à exposição d’ OSGEMEOS no Museu Oscar Niemeyer. Dei um rolê pelo museu antes de atacar a mostra. Gosto de caminhar por aquele corredor iluminado e subir até o olho. Acho o museu um pouco mal cuidado e pessimamente aproveitado. De todos os modos, é o que temos e sempre tem algo para ver. A exposição dos irmãos é muito bacana, colorida e interativa. Foi preparada exclusivamente para o MON. Tirei muitas fotos e fiz um video de apresentação do museu, que logo estará no ar na pulpTV.

No meio da tarde ainda chovia e fui ao cinema ver As Duas Faces da Lei (The Righteous Kill) com Al Pacino e Robert de Niro. Gostei. Um daqueles thrillers policiais da NYPD com uma história envolvente. Recomendo apenas para aqueles que já foram assisistir ao Ensaio sobre a Cegueira, já que este é imperdível. Na verdade iria vê-lo uma segunda vez antes de qualquer outro em cartaz.

Como se não bastasse, já comprei duas latas de leite em pó (é o ingresso) para ir ao Teatro Novelas Curitibanas. Vou ver Delicadas Embalagens. Gosto do teatro pois as cadeiras ficam ao redor do palco. Há uma interação legal entre a platéia e os atores. Se por acaso eu não gostar amanhã eu entro aqui e conto para você.


Acredito piamente que quanto mais pessoas forem aos teatros, quanto mais críticos forem e quanto mais movimento gerarem, melhor será a qualidade tanto das salas quanto das peças. Ao invés de ficarem reclamando que em Curitiba não tem nada para fazer, basta sair de casa para fazer algo diferente. O que não falta são opções. E olha que isto está saindo das mãos de alguém que um dia jurou que nunca mais moraria nesta cidade pois aqui nada acontecia.

Boa semana para todos.

Vicente